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A partir de março de 2000 passei a escrever uma série de artigos intitulados "Colaboração e Resistência" que deram origem a minha coleção temática. Foram no total18 artigos que passo a reproduzir abaixo, algumas alterações se fizeram necessárias e novas ilustrações foram acrescentadas. Todas as peças usadas nas ilustrações são de minha propriedade e fazem parte da coleção. 

Colaboração e Resistência
Pequenas histórias de uma grande história

Passadas décadas do final da II Guerra Mundial, muitos fatos ocorridos durante o conflito ainda causam polemicas e controvérsias.
Essas duas palavras (Colaboração e Resistência) caminham lado a lado em todos os paises ocupados ou não pela Alemanha.
As façanhas efetuadas pelos grupos de resistência, são sempre lembradas e enchem de orgulho ufanista todas as nações que tiveram mártires nesse período. Serão sempre contadas e recontadas e jamais esquecidas, apesar de muitos terem sofrido o contra golpe desses atos, mas o heroísmo de patriotas que perderam a vida tentando livrar seus paises do jugo nazista, eternamente serão lembrados.
Por outro lado, houve muitos casos de colaboração com o inimigo que se apoderara de seus paises. Pelo fato de se acovardarem ou de estarem de acordo com o ideologismo nazista muitos se alinharam ao lado dos ocupantes e junto com os mesmos cometeram atos, pelos quais até hoje são considerados traidores.
Muitos também foram obrigados a se alistarem nas fileiras inimigas, mas o que realmente passa a história é o ato de não oferecer resistência a imposição inimiga.

Filatelicamente esse período é muito rico, na área colaboracionista existem varias emissões que nos contam o momento vivido pelas nações naqueles anos.
Já, por razões obvias, os selos que contam as façanhas da resistência na sua maior parte foram emitidos após o final das hostilidades. Muitos ainda serão emitidos no decorrer dos anos, pois a cada dia surgem novas histórias sobre a II Guerra Mundial. O estudo desse período nas emissões filatélicas e de história postal nos leva a uma viagem aqueles dias. Dias que jamais serão esquecidos!  

Colaboração e Resistência
Capitulo I e II
Boletins da S.P.P. março e junho 2000

Após mais de meio século do final da Segunda Guerra Mundial, essas duas palavras ainda causam muita polemica nos paises que foram ocupados pela Alemanha. Vejamos então qual a definição que os dicionários nos dão sobre elas:
 

Colaboração: Trabalho em comum com uma ou mais pessoas; cooperação.

Resistência: Ato ou efeito de resistir, força que se opõe a outra, que não cede a outra, oposição ou reação a uma força opressora.
 

Agora vamos usar palavras derivadas de ambas:

Colaboracionista: Diz-se de ou nacional dum pais ocupado que apóia as forças de ocupação ou com elas colabora.

Resistente: Que resiste ou reage. A filatelia nos ajuda a mostrar esse capitulo da historia com uma grande variedade de selos que foram emitidos durante esse conflito. Vamos, neste primeiro capitulo, citar os colaboracionistas, aqueles que de uma forma ou outra resolveram lutar ao lado dos alemães e fizeram parte das temidas divisões SS conhecidos como “Soldados da Morte”  (imagem 01).

Durante os anos de gloria do exercito alemão (1939/41), não foi difícil amealhar simpatizantes para a causa nazista nos paises ocupados. No principio o alistamento voluntário deveria seguir algumas regras de cunho racial. Os candidatos a soldado deveriam ter o sangue nórdico puro ou serem alemães raciais (Volksdeutsche), imigrantes vivendo nos vizinhos orientais da Alemanha. A campanha dos   Bálcãs de 1941 abriu nova reserva, pois Romênia, Hungria e Iugoslávia abrigavam grandes comunidades de alemães raciais. Para os jovens desses paises, as SS pareciam oferecer o escoadouro mais imediato para boa dose de ressentimento pela sua condição minoritária.
Alem disso, em todos os paises ocupados pela Alemanha, havia partidos de ideologia nazista e seus simpatizantes se espelhavam na doutrina da superioridade da raça ariana.

Imagem 01

Os paises escandinavos eram, a principio, ideais para que se criassem as primeiras legiões de soldados SS, sendo que em meados de 1940 foram criados os dois primeiros standarten (Westland e Nordland), que foram formados respectivamente por holandeses e belgas flamengos e por dinamarqueses e noruegueses. Quando se resolveu criar uma divisão em torno desses dois standarten, no começo da guerra com a Rússia, menos de um terço da divisão “Viking” era composta de nórdicos. Todas as legiões teriam treinamento nas escolas SS, menos a legião francesa, que seria treinada e liderada pelo exercito alemão. Ela recebeu o nome de Legião de Voluntários Franceses, originalmente criada em julho de 1941, por fascistas franceses, com o nome de Legião Francesa contra o Antibolchevista (imagens 02 e 03).

Imagens 02 e 03

Mais tarde foi patrocinada pelo governo de Vichi. A legião francesa e a Legião da Valônia (imagem 04) , formadas pelos Rexistas de Degrelle,na Bélgica de língua francesa, tornaram-se “Regimentos SS de Voluntários”. regimento de voluntários SS de grande destaque, com atuação na Polônia, foi a Legião Holandesa,

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mais tarde elevada a condição de divisão (23ª divisão Blindada Nederland). Durante os anos de guerra, de acordo com relatórios encontrados nos arquivos SS, chegaram a se alistar cerca de 50 mil homens. (imagem 05)  Alguns desses voluntários tiveram o papel de milícia nazi-holandesa em seu próprio território tendo sido aniquilada na batalha de Berlim.

Tivemos também a 11ª SS Panzergrenadier Division “Norland”,formada em 1943 com sobreviventes das legiões dinamarquesa (imagem 06),  holandesa e norueguesa, lutando ao lado dos colaboracionistas croatas. Uma curiosidade dessa divisão é que ela perdeu seus três comandantes: Fick, Von Scholz e Ziegler. Atuou também em stargard, e foi aniquilada nos arredores de Berlim.

Imagem 04

Imagem 05

Imagem 06

Na Iugoslávia, onde o sentimento anti-semita também aflorava (imagem. 07),  tivemos dois grupos de colaboracionistas sendo um dos mais destacados, os Ustachis (croatas), separatistas que formaram uma legião SS (imagem 08)  e que eram especializadas na luta contra os Partizans Comunistas de Tito.

Algumas legiões praticamente não saíram do papel, mas demonstraram a amplitude da propaganda nazista em amealhar para seus quadros simpatizantes de todas as nacionalidades. Um 

exemplo dessa capacidade foi a Legião Indiana Freies Indien ( imagem. 09)  que era considerada motivo de chacota pelo próprio Hitler. 

Muitas outras Legiões, divisões e batalhões foram formados durante a Segunda Guerra, umas com mais e outras com menos destaque. È impressionante como afilatelia nos mostra exemplos claros, através de selos emitidos no decorrer do conflito, de como podemos contar esse capitulo da historia. 

Talvez a maioria dos envolvidos gostaria de esquecer esses fatos. Uma pagina que enche de vergonha todas as nações que tiveram seus territórios invadidos e, ainda assim, colaboraram com o opressor. Alem da luta ao lado dos nazistas através da Waffen-SS muitos outros colaboraram de uma forma ou de outra no cotidiano de seus paises ocupados. Por outro lado existiram homens e mulheres que morreram lutando pela liberdade de seus paises. Motivo de homenagens ate hoje, incorporados que foram a galeria de heróis da guerra. Nos próximos capítulos contaremos essas pequenas histórias que fazem parte dessa Grande Historia!

Imagem 08

Imagem 07

Imagem 09

Colaboração e Resistência
Capitulo III e IV
Boletins da S.P.P. setembro e dezembro 2000

Como vimos acima, muitos colaboracionistas se alistaram (ou foram obrigados a isso) nas Waffen SS, não só para lutar ao lado dos nazistas, mas também contra o bolchevismo (comunistas), que na época causavam medo ainda maior, que o próprio Nacional Socialismo. A luta não era apenas de pessoas com aramas. Em todas as áreas existiam simpatizantes da causa nazista, na política, na igreja,nas artes, nos esportes etc...
Existe muita controvérsia a respeito de varias personalidades e a países que de uma forma ou de outra colaboraram ou agiram de forma passiva diante dos crimes que eram cometidos. A colaboração se estendeu mesmo no pós guerra com a ajuda a muitos criminosos a não responderem pelos seus atos durante a guerra.
Vamos  ver alguns nomes bem conhecidos que colaboraram ou se omitiram durante o período de “Ascenção e Queda do Terceiro Reich”.
França: Um dos nomes que mais gera controvérsias na França ainda hoje, na questão de colaboradores com o regime nazista, é o do velho Marechal Phillipe Pétain (imagem 01).

Imagem 01

Herói durante a Primeira Guerra Mundial, tornou-se chefe de governo em 1940 e assinou o armistício com os alemães. Instalou o seu governo em Vichy durante a ocupação alemã e exerceu uma política de colaboração e autoritarismo. Após a guerra foi julgado e condenado a morte, tendo a pena sido comutada em prisão perpetua na ilha de Yeu, onde faleceu em 1951.

Noruega: Seu nome, Vidkun Quisling, (imagem 02)virou sinônimo de traição. Político, ministro da guerra (1931/33), fundou o Agrupamento Nacional pró nazista, e praticamente abriu as portas da Noruega para a invasão alemã. O traidor alertou os alemães para uma eminente invasão inglesa e da importância de tomarem a dianteira na ofensiva. Devido aos serviços prestados, tornou-se chefe de governo durante a ocupação alemã (1942). Após a libertação da Noruega, foi julgado em Oslo, condenado a morte e executado.

Imagem 02

Vaticano: Muitos anos já se passaram e até hoje não se encontram ou chega-se a conclusão para as atitudes da Igreja Católica no papado de Pio XII (Cardeal Eugênio Pacelli) (imagem 03) em relação ao nazismo.
Seu silencio diante das atrocidades cometidas entre os anos de sua sagração 1939, até o final da guerra em 1945. Sua posição ainda causa acaloradas discussões entre os que defendem suas posições, alegando que atitudes mais fortes, poderiam acarretar reações mais fortes ainda como a ocupação e posterior dilapidação do próprio Vaticano.
Outros defendem ainda que uma atitude mais enérgica poderia ter ajudado a impedir a barbárie que resultou a II Guerra Mundial, alem de atitudes suspeitas após o final da mesma.

Imagem 03

Argentina: Idolatrado por uns e odiado por outros, Juan Domingo Perón (imagem 4) participou do golpe militar de 1943 pelo qual se tornou Vice presidente e Ministro da Guerra e do Trabalho. Sua relação com o fascismo vem do período em que foi adido militar em Roma, no ano de 1933. Ele nunca escondeu suas relações amigáveis com a Alemanha de Hitler. Perón só viria a declarar guerra contra a Alemanha, após forte pressão dos aliados em 1944. No pós guerra, a Argentina tornou-se refugio seguro para muitos dos mais destacados criminosos de guerra.

Imagem 04

Brasil: Entraremos mais uma vez em controvérsia. Enquanto nossos pracinhas lutavam na Europa por liberdade e democracia contra o regime nazista, no Brasil vivia-mos a ditadura do Estado Novo. Getulio Dorneles Vargas (imagem 05) sempre se equilibrou entre as nações democráticas e o nazi-fascismo, expressando uma neutralidade de interesses, chegando a proferir um discurso favorável a Alemanha. Durante seu governo tivemos muitos casos de colaboração. 

Imagem 05

Um dos mais comentados, foi a entrega da esposa grávida de seu opositor ferrenho, Luiz Carlos Prestes. Olga Benário (imagem 06) foi entregue aos nazistas pelo então chefe da Policia Federal, e simpatizante nazista Filinto Müller. Ela viria a morrer em 1942 na câmara de gás, em uma clinica na cidade alemã de Bernburg, após passar pelo campo de concentração de mulheres de Ravensbruk onde com ela morreram outras 200 mulheres.        

Se formos nos alongar em colaboradores e simpatizantes nazistas com certeza encheríamos muitas paginas de nosso boletim, dessa feita vamos contar nos próximos números algumas histórias de bravos que se alinharam a resistência.

Imagem 06

Lídice

Imagem 01

Muitas histórias são contadas em verso e prosa sobre os movimentos de resistência, de grupos de patriotas que lutaram, e muitas vezes deram a própria vida para libertar seus países, ocupados pelos países do eixo durante a II Guerra Mundial.
Uma dessas histórias, que pretendo narrar aqui, diz respeito a resistência na antiga Tchecoslováquia, uma história de coragem e com um final previsível há época. E até hoje emociona pelo aspecto sinistro de seu desfecho.
Os acordos de Munique de 1938, cedendo a região dos Sudetos à Alemanha deram inicio a ocupação total da Tchecoslováquia, que durante a ocupação nazista passou a chamar-se protetorado da Boêmia Morávia (imagens 01 e 02).

Imagem 02

No exílio, à época, o Presidente da República Dr. Benes (imagem 3), vendo seu país totalmente ocupado, organizou um movimento de resistência. Foram criados vários comandos, aquartelados na Inglaterra, que de paraquedas, desciam em território checo para as mais diversas missões, como espionagem, sabotagem etc...
Um desses comandos teve uma missão altamente secreta e sua realização, talvez tenha sido um dos atos de maior repercussão contra o domínio nazista.

Imagem 04

O comando Antropoide tinha como missão assassinar Reinhard Heydrich o “Protetor” da Tchecoslováquia (imagem 04). A manhã de 27 de maio de 1942 era o inicio de mais um dia de trabalho para o SS Heydrich. Mal sabia ele que seria um dos últimos dias de sua vida. Partiu cedo de sua residência, juntamente com seu motorista e sem escolta, pelas ruas de Praga, quando os homens do comando Antropoide, chefiados por Josef Gabcik (imagem 05), interceptaram o veiculo e com rajadas de metralhadora (que por sinal falhou na hora H) e uma granada de mão consumaram o atentado (imagem 06).

Heydrich ficou gravemente ferido e veio a falecer de septicemia (infecção generalizada) oito dias após o atentado. Seu funeral teve toda a pompa e honras militares, contando com toda a cúpula nazista, incluindo o próprio Hitler.

Imagem 03

Imagem 05

Imagem 06

Os fatos que se sucederam após esse episódio demonstram o terror vivido por todos aqueles que se opunham à dominação do regime nazista. (imagem 07)
Hitler dera a ordem para uma vingança sem precedentes. Queria ele a morte imediata de todos aqueles envolvidos no assassinato do “protektor”. Após as investigações, algumas pistas levaram à aldeia de Lídice. Os fatos que se seguiram, se resumem a uma matança absurda, uma vingança sem precedentes, que tirou a vida de inocentes e deixou o mundo todo a prantear (no pós guerra) esse crime bárbaro. A 9 de junho de 1942 as ordens foram as seguintes:

  • Todos os homens (da aldeia) serão executados, por fuzilamento.

  • Todas as mulheres serão enviadas para campos de concentração 

  • As crianças capazes de serem “Germanizadas” deverão ser enviadas para o seio de famílias SS, na Alemanha; as demais internadas em campos de concentração. 

  • A aldeia depois de incendiada deverá ser arrasada, e seu solo salgada para que nada nele se erga novamente.

Imagem 07

Em 10 de junho de 1942, cumpriram-se as ordens e Lídice deixava de existir, levando consigo todos ou quase todos os seus habitantes. A destruição de Lídice, para os nazistas, serviria de exemplo e seria uma maneira de desencorajar novos atos de insubordinação.
As investigações prosseguiram, pois os verdadeiros autores do atentado ainda continuavam livres. Após receberem denúncia enviada através de carta anônima (que mais tarde soube-se, fora enviada por um membro da resistência) uma onda de prisões foi efetuada. Um jovem indiretamente envolvido no atentado, após passar pelos terríveis interrogatórios da Gestapo, não resistiu e acabou confessando que os paraquedistas estavam escondidos na cripta da igreja de São Carlos Barromeu, em Praga.
Na manhã de 18 de junho, cerca de 360 homens das unidades SS cercaram a igreja Valcik, Gabcik e Kubis estavam na cripta, juntamente com o comando reserva composto por Svark, Bublik e Hrubý. O confronto era evidente pois eles não se entregariam vivos de maneira alguma, lutariam enquanto tivessem munição. Depois de demorados combates, vários homens SS conseguiram penetrar na cripta. O fim do combate ocorreu quase três horas depois, com todos os membros da resistência suicidando-se. Após a guerra poucos pagaram por esse crime. O comandante das operações, Max Rostock, foi preso e julgado, sendo enforcado em Praga em agosto de 1951. O sucessor de Heydrich como “protektor”, Karl Hermann Frank, conhecido como “Carniceiro de Praga”, foi preso, julgado e enforcado em Nuremberg em 1946.
Não apenas Lídice (imagens 8) foi sacrificada.

Imagens 08

Em junho de 1944, uma pequena aldeia francesa, Oradour-sur-Glane, de apenas 652 habitantes, teve o mesmo destino trágico da pequena vila da Tchecoslováquia.(imagem 09)
No mundo inteiro foram criados vários movimentos para que a destruição de Lídice não caísse no esquecimento. Um desses movimentos visava rebatizar localidades com o nome de Lídice. No Brasil também existe uma Lídice, no estado do Rio de janeiro, rebatizada para homenagear as vitimas desse ato brutal. (imagem 10)

Imagem 09

Imagem 10

Um mini-documentário olhando para a história da pequena aldeia da Checoslovaquia  Lidice, que foi completamente massacrada pelas SS de Hitler em 10 de junho de 1942.

O documentário olhando a vida antes e depois de 1942.

Continua....

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